domingo, 25 de abril de 2010

Juca Chaves, o Menestrel do Brasil (Parte 2)

Esta é a segunda parte da entrevista concedida a mim pelo cantor e compositor Juca Chaves, o Juquinha, conhecido como Menestrel do Brasil e que completou 50 anos de carreira. Versão reduzida de um bate-papo de uma hora com o artista.

Como foi começar em um momento em que a Bossa Nova estava estourando?
Estourou depois. Eu convivi até com iniciantes da Bossa Nova. João Gilberto, por exemplo, gravou um pouquinho antes de mim, mas eu apareci antes dele. Não havia a expressão “bossa nova” e tentaram criar um movimento. Como eu tinha feito “Presidente Bossa Nova” e a música estourou no Brasil todo, começaram a me chamar de “Bossa Nova”. Eu dizia: “não sou”. Quanto mais eu dizia que não era, mais diziam que eu estava querendo entrar no movimento, que não estourava. Em 1961, quatro anos depois que eu já tinha começado a carreira, mandaram um grupo de cantores da Bossa Nova, todos amigos meus, para os EUA, inclusive o João Gilberto. E foi um fracasso. Aí o músico que era casado com a irmã do João Gilberto gostava da música brasileira, da Bossa Nova, e começou a fazer a coisa lá, deu força pra Bossa Nova. Foi um americano. Daí que começou a despertar no mundo. Mas não sou da Bossa Nova, odeio! Aliás, não gosto de Bossa Nova, pelos acordes e pelas letras. Acho as letrinhas muito inocentes. “Barquinho”, “beijinho”, tudo assim... Mas foi divertido, foi um movimento, mas outros já cantavam assim. Eu cantava antes até do João Gilberto.

Como era o Juca Chaves antes da Yara? Sempre foi romântico?
Acho que sim! Eu era solteirão. Namorava muitas meninas porque eram muito bonitas – porque de feio já chega eu quando me olho no espelho, pô!Eu traí algumas meninas, porque elas também me traíram. Mas eu não quis casar com nenhuma delas. Queria namorar.

Até a Yara aparecer...
A Yara apareceu e, não sei por que, mudou minha cabeça. A magrinha fez o diabo e usou a beleza deste corpinho bonito (risos). Eu estava na praia passeando com a minha cachorrinha e ela chegou (risos). De cabelinho curto! Todas as minhas namoradas tinham cabelo comprido, ela tinha cabelo curto. Loirinha. Fiquei doido. Foi um namoro muito rápido, muito bonito. Fiquei noivo no Peru e casei na Bahia, num dia 2 de fevereiro, dia de Yemanjá, em homenagem a ela. Quem cantou? Dorival Caymmi, maior presente que eu já podia ter na vida. Caymmi, meu ídolo... Sempre gostei de Caymmi.

Foi nesse momento que “A Cúmplice” foi composta?
Eu já tinha feito quando conheci a Yara, antes do casamento, em julho de 1974. E eu aí fiz a música. Eu já tinha começado a fazer uma idéia da música. .Queria uma mulher diferente, assim. Aí eu falei “tá aí, agora vai!”.

Como se tivesse sido uma oração atendida...
Uma oração, sim. Atendida! Exato!

E hoje essa música ainda continua sendo uma oração pra muita gente, não é? Muitos vídeos com a música podem ser encontrados no Youtube...
Isso, eu sei! Eu acho tão bonito isso e fico muito feliz, porque é uma música que deu certo, né? Talvez porque ela não tenha letra, tem poesia. A diferença entre a letra e a poesia... Na sátira eu já uso a letra, bem rimada, às vezes. Na poesia, já uso automaticamente o soneto e aí acrescento mais um verso.

E como se deu a adoção de suas duas filhas, as duas Marias?
Foi quando eu tinha 60 anos e a Yara tinha 45. Uma diferença de 15 anos. Eu evitava filho, já tinha feito vasectomia. E ela também usava cápsula do Dr. Elcimar Coutinho. E fomos levando, levando... A Yara já estava numa idade que poderia ser perigoso também. Consultei vários médicos e parti pra adoção. Acho a maneira mais simples, mais romântica... Tão bonito: você vai numa creche e aquelas menininhas todas abrem a mão assim pra você... Aí adotamos as duas. Deu certo a primeira e deu certo a segunda, dois anos depois, de outra creche, de outro lugar. Tanto que uma é alta, a outra é pequenininha. A pequenininha é romântica, carinhosa. A outra é completamente a pá virada, hiperativa.

Seu ritmo de composição continua o mesmo?
Ah, menos um pouco, mas eu gosto de criar. Coisa que eu não gosto, jogo fora. Fiz muita música de caráter neorrenascentista, medieval. É a vida, né? Eu não posso parar. Eu parei dois anos na Bahia e fiquei só vendo televisão. Foi aí que eu tive problema no coração, peguei minha diabete, nasceu a barriga... É merda! Você tem que continuar sempre trabalhando.

Qualquer um é acostumado a ver o Juca Chaves sempre sorrindo, de bem com a vida, contando as suas histórias, suas piadas... Mas o que te tira do sério e desse estado quase constante de bem estar?
De um modo geral eu sou assim. Mas me irrita discutir com gente ignorante. Aliás, aprendi a nem discutir. A ignorância das pessoas me irrita... Porque são dogmáticas. São pessoas que acreditam numa coisa só e vai dali. É o religioso fanático, ortodoxo... Me cansa isso, em qualquer religião. Os indivíduos de um ponto de vista só, o politicamente correto. Você tem que, na vida, balançar. Eu sou um libriano, sou desonesto como toda balança de açougueiro. Você tende um pouco pra um lado, mas procura manter um equilíbrio.

Um comentário:

Ciro Ribeiro disse...

Privilegiado por ter criado a oportunidade para essa entrevista fantástica com um cara desses. Parabéns!