quinta-feira, 22 de abril de 2010

Juca Chaves, o Menestrel do Brasil (Parte 1)

Confira a primeira parte da entrevista concedida a mim pelo cantor e compositor Juca Chaves - em versão reduzida especialmente para o Blog Beco das Palavras:


“Não vai doer”, disse Juca Chaves ao seu violão no momento em que plugava nele o cabo de som. Foram as primeiras palavras do Menestrel do Brasil, após surgir do lado oposto em que se encontrava o telão que acabara de exibir um vídeo com um resumo de sua biografia. Começava o espetáculo Jubileu de Ouro, em Goiânia: mais um show de um ano inteiro de comemorações dos 50 anos de carreira artística, ou “prostituição artística”, como o mesmo ironiza.

Quatro músicas tocadas e cantadas ao vivo, sozinho no palco, com o auxílio apenas do instrumental lançado por um técnico de som ao fundo do teatro. Muitas histórias, com trechos de outras canções, e tantas piadas. Tudo muito simples, sem orquestra, a luz concentrada tão somente no Menestrel, na cadeira, no violão. Simplicidade do espetáculo e simplicidade do artista, que toca de branco e com os pés descalços. E um público que se emociona, ri e leva pra casa bons exemplos de Juca Chaves, o artista das sátiras políticas, piadas e modinhas apaixonadas. Que depois de dar pelo menos três entrevistas após o fim do show e, então, mostrar-se cansado para um outro papo mais longo, decidiu marcar comigo no dia seguinte, no hotel, pela manhã. Estaria descansado, e estava. Juquinha falou por uma hora sobre sua vida, músicas, suas filhas, sua mulher Yarinha e, claro, política.


Cansado de dar entrevista?
Há muitos anos. Mas eu gosto. Gosto! Vai refrescando a cabeça, atualizando, fazendo os neurônios funcionarem...

Esse é um espetáculo de comemoração dos seus 50 anos de carreira, não é isso?
É, o ano todo eu estou comemorando. Festa de Menestrel (risos).

Navegando um pouco pela rede, a gente percebe que você está muito envolvido com a Internet. Tem twitter, blog...
Agora, né? Eu fiz um twitter, um blog e criei o programa que se chama Só Para Inteligentes.

Como é esse programa?
É um programa de televisão que eu faço no meu teatro [Espaço Cultural Juca Chaves, em São Paulo], com um público. Começou agora, uma semana atrás [agosto/2009]. Já entrevistei o Ratinho... Entrevistei não. Não tem entrevista. Eu fiz uma coisa tão de bate-papo que não ficou uma entrevista. Isso eu acho gostoso. E tem o público que ri, a gente conta piada e não tem um texto escrito, não tem produção. Sentou naquela “mão” e já vai batendo papo. Eu fiz esse programa na Bahia, durante três anos, chamado Só Para Inteligentes e aí eu batia papo com os artistas da Bahia... Foi muito gostoso!


O que você pensa sobre a pirataria, sobre a distribuição livre de música pela Internet?
Acabou o direito autoral, porque tudo se transformou em um aparelhinho do tamanho de um dedo, no qual você pode gravar 1500 músicas. O rádio começou com a pirataria, principalmente a rádio FM, no Brasil. Estragou a música brasileira, porque a FM descobriu que tinha poder e só começou a tocar porque pagavam. Então, eles escolhiam. Foi uma imposição de músicas que eles queriam, ou não. Há os artistas que reagiram, conseguiram manter... Por exemplo, Roberto Carlos... não toca uma música do nosso Rei há 500 anos. Porem, ele, sozinho, como não apareceu ninguém melhor, ficou. A rádio verdadeira é a AM porque ela fala com o ouvinte, ela não impõe...

Como surgiu essa denominação de Menestrel?
Quem me deu foi o maior jornalista, por sorte a minha, do Brasil... Ele é o maior repórter do Brasil. Passou pelas quatro guerras e fez as quatro. Flávio Alcaraz Gomes, do Zero Hora e da Rádio Guaíba, lá do Rio Grande do Sul. Quando eu fui lá primeira vez, disse-lhe: “sou o trovador”. 53 anos atrás, foi no início, segundo lugar que eu fui. Aí ele falou: “não, tu és um menestrel, não és um trovador”. Eu achei aquilo bom, ele me explicou o que é o menestrel. E falou: “você faz exatamente o que faz o menestrel”, que canta as cantigas de escárnio, de maldizer, critica o rei, faz a sua trova de amor para a sua amada. E não tem ninguém, trabalha sozinho. Sem querer, eu fui isso.

*Confira a segunda parte da entrevista no domingo, 25 de abril/2010.

Nenhum comentário: