terça-feira, 13 de setembro de 2011

O menor homem do mundo

Por estas ruas e avenidas, por estes becos de palavras duras como pedras, havia um homem. Um homenzinho. Um pouco torto na vida, já que muitas de suas escolhas eram consideradas a contramão da maioria. Era, de fato, um homenzinho diferente. A começar pelo tamanho. Não, não falo de sua altura, nem de seu físico, visto que era até um rapaz magro e de alta estatura, coisa de um metro e setenta e oito centímetros. Não falo, então, de seu tamanho literal. Este rapaz era o menor homem do mundo em outras coisas. Basicamente, tornava-se menor a cada abandono que sofria. E sentia.

É que o menor homem do mundo nunca teve ares de sedutor. Cresceu sem tantas paqueras, enquanto os outros rapazes, os maiores homens do mundo, digladiavam-se em uma competição sempre acirrada na arte da conquista. O menor homem do mundo nunca quis, a bem da verdade, entrar nessa disputa. O que ele sempre queria, quando alguma garota diferente aparecia, era chegar de mansinho, com sussurros, e ser companheiro e cúmplice. Quando seu coração ganhava o coração de uma menina, o menor homem do mundo ficava grande. Ficava enorme. Ficava maior que os maiores homens do mundo. E geralmente em estado bestial.

Aí, quando o menor homem do mundo ficava gigante assim, pronto! Era um tal de querer fazer da tal menina a maior mulher do mundo. Sempre. E seguia então o homenzinho fazendo de tudo para fazê-la feliz. Para vê-la bem. E por tantas vezes, o menor homem do mundo trazia, para a menina, a lua, bela e cheia de brilho, em forma de poesia. Ele, o homenzinho. Que tantas vezes ganhava o dia com os sorrisos dela. Que outras tantas vezes velava o sono da maior mulher do mundo, contemplando sua pele macia enquanto afagava seus cabelos. Ele, que tantas vezes ganhava noites e madrugadas pra dar mais força em seus escritos. Porque ela, assim como ele, era uma garota que lia e escrevia.

E o menor homem do mundo ia cada vez mais se agigantando. Ele, que por tantas vezes dava o seu abraço para que ela pudesse deitar. E a fazia dormir. Ele que, vejam só!, por algumas vezes até lavou pratos e copos para poupá-la de mais trabalho. E que todas as vezes agradecia a Deus por ela existir em sua vida e por ele fazer parte da dela. O menor homem do mundo não cabia em si de tão grande que ficava. Ele, das cestas de café, das flores, dos livros. Dos bombons em tardes difíceis, das desavisadas surpresas. Das conversas de toda ordem, dos emails, da paciência, das gargalhadas deliciosas. Das massagens, dos carinhos, das fotografias. Dos filmes, dos jogos na tevê, das músicas...

Mas é que o menor homem do mundo, mesmo quando era gigante assim, não deixava de ser o menor homem do mundo. Ainda mais quando o coração que havia ganhado o seu coração resolvia deixá-lo, talvez por ser este rapaz o menor homem do mundo. Ele, logo ele! Que tanto fazia para que aquele coração não o esquecesse, tampouco pensasse em esquecer, em deixá-lo. Ele, logo ele, que mesmo sendo o menor homem do mundo, pensava ter algum valor, pensava ter valido a pena tudo o que ele era e o quão gigante se tornava... Ele, logo ele! O homenzinho que só queria ter sido especial. O menor homem do mundo que virou poesia calada e esquecida.